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VINDIMA 2024: Uma década de Vindima de Altitude de Santa Catarina

Vindima de Altitude de Santa Catarina completa uma década em 2024, se consolida no mercado vitivinícola brasileiro, e impacta o movimento turismo e econômico do estado. 

 

A Serra de Santa Catarina, localizada no Sul do Brasil, região mais fria do país, prepara-se para a 10ª Vindima de Altitude, maior evento de vinhos do estado. É chegado o momento de celebrar a colheita da uva, a safra deve ultrapassar 1,5 tonelada de frutos colhidos. Em 2024, a festa ocorre de 1 de março  a 30 de abril, com o Tour nas Vinícolas onde os visitantes podem participar da colheita da eva, desfrutar de degustações no vinhedos, a experiência da pisa da uva, piqueniques, sunsets, almoços e jantares harmonizados.

 

Tradicionalmente, nos primeiros fins de semana de março (1 a 3 e 8 a 10), os visitantes podem conhecer os produtores e suas histórias relacionadas ao mundo do vinho. Nesta edição, o Vinho & Arte Festival reúne 19 vinícolas de altitude. O evento enogastronômico conta com a culinária típica da Serra, e ainda atrações culturais, no  pavilhão principal do Parque Nacional da Maçã, em São Joaquim. Ao longo de 10 edições, a Vindima se consolidou impactando diretamente o setor de  turismo da região e contribuindo para a elevação dos números  econômicos  do estado. 

 

O primeiro registro de produção de vinho em Santa Catarina ocorreu no ano 1864, naquela época a bebida era produzida apenas para o consumo familiar. Na Serra Catarinense, a produção de vinhos remonta ao ano de 1931. Porém, a expansão dos vinhedos e vinícolas da região acontece somente em 2002 e, dois anos depois, os produtores realizam a primeira colheita de uvas finas em escala comercial. 


 

A 1ª Vindima de Altitude

 

Dez anos após a primeira colheita de uvas finas, o setor estruturou o negócio e, em 2014,  as cerca de 15 vinícolas da região decidiram celebrar a colheita durante a 1ª  Festa da Vindima, um evento criado para envolver e aproximar os moradores da cidade e turistas de todo o país com os produtores de uvas e vinhos da região serrana catarinense. De acordo com José Eduardo Pioli Bassetti, produtor que participou da primeira edição da Vindima de Altitude, em 2014, quando o evento aconteceu no pavilhão da Igreja Matriz, o formato da festa era diferente. “O espaço tinha uma boa decoração, na parte central havia umas banquetas, algumas poltronas e sofás para o pessoal sentar, e isso foi um bom começo”.  

 

Naquela época poucas vinícolas tinham visitação nos vinhedos. Então, a ideia era que o público visitasse os estandes, tivesse a oportunidade de conhecer todas as vinícolas e os rótulos produzidos na região.  Outro produtor que participou das primeiras edições da colheita da uva na Serra Catarinense foi Everson Fernando Suzin. Ele lembra que inicialmente os moradores da região acreditavam que o evento era exclusivamente para visitantes de outras cidades. “Aos poucos nós fomos desmistificando isso e o público local foi chegando. Hoje nós temos uma participação bem interessante do Joaquinense e do Serrano, assim como do pessoal de Florianópolis, outras cidades e, claro, pessoas de vários estados do país, que são da área, e participam por gostar muito do vinho”. 

 

Através dos relatos dos proprietários de vinícolas percebemos o propósito e a intensidade do evento. Afinal, desde a primeira edição, a Vindima é um festival cultural com atrações que envolvem música, dança, poesia, teatro, gastronomia, visitas nas vinícolas, provas e degustações de vinhos. “Assim conseguimos chamar a atenção dos moradores e turistas, para conhecer e apreciar a gastronomia e os vinhos da região”, explica o primeiro presidente da Associação Vinhos de Altitude Produtores e Associados, Acari Amorim. As primeiras edições foram eventos marcantes com direito à apresentação do Ballet do Teatro Bolshoi em um palco montado no meio dos vinhedos da Vinícola Pericó na 2ª edição do evento, em 2015; e concerto musical com  três dos maiores tenores do Brasil (Ricardo Castro, Douglas Hahn e Thompson Magalhães), em 2016, durante a 3ª Vindima de Altitude.

 

“A Vindima é um momento especial, sublime, quase divino, porque é a época da colheita. Esse é um momento de coroamento de todo o esforço que ocorre o ano inteiro. A videira precisa de cuidados permanentes para superar todas as dificuldades que vem com as chuvas e o frio intenso, num trabalho feito na mão, por muitas pessoas. Então, quando se colhe a uva e tem o início da produção do vinho é um momento mágico, que encanta quem produz e quem acompanha todo esse processo de produzir um vinho de alta qualidade, como são os produzidos na altitude de Santa Catarina”, celebra.


 

Turismo e Economia

 

A história dos Vinhos de Altitude também impulsiona o turismo e a economia de Santa Catarina. São Joaquim, por exemplo, concentra o maior número de vinícolas e todos os anos é sede do Vinho & Arte Festival que integra a Vindima de Altitude. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2014, quando foi lançada a primeira Vindima, a cidade tinha um PIB (Produto Interno Bruto) de R$ 672 milhões. Já em 2021, o PIB ultrapassou R$ 1,1 bilhão, ou seja, em menos de 10 anos quase dobrou de tamanho. 

 

 https://cidades.ibge.gov.br/brasil/sc/sao-joaquim/pesquisa/38/46996?tipo=grafico)

 

“O vinho não é o único responsável por essa façanha. Para alcançar esses números há ainda, a importante  produção de maçã que movimenta mais de 50% da economia e todo o comércio local. Mas o enoturismo, dentro do turismo como um todo, tem uma grande parcela nesse desenvolvimento da cidade, com geração de mais empregos e renda local”, explica Acari.

 

Dados do Almanach (Sistema de Inteligência Turística de Santa Catarina), referentes a 2023, apontam 90 atrativos na Serra Catarinense, entre eles estão as vinícolas, com nota média 4,24, em uma escala de 1 a 5. No ano passado, a região recebeu quase 13 milhões de visitantes. O Sistema de Inteligência Turística aponta ainda que, somente entre os meses de março e abril, época em que acontece a Vindima de Altitude, mais de 3,5 milhões de pessoas passaram pela Serra.

Link do Alamanach:

https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiZDY3OGQxNzgtNGJiZi00ZTUxLWFmMTEtYWEyMjFjNjNhODJiIiwidCI6IjlmYjM1NDhiLTk3ZDEtNDBiZi1iODY3LTU3MGQ0ODJlZjFmZCJ9

 

Os números refletem um processo de aculturamento, onde o público se adaptou à cultura, gerando envolvimento e engajamento com a Vindima de Altitude, resultando no desenvolvimento regional. Segundo o produtor Everton Suzin, as empresas locais estão crescendo e impulsionando outros setores como a hotelaria e a gastronomia. “Assim, toda a comunidade se beneficia com o movimento do turista que vai na farmácia, no restaurante, no hotel, no posto de gasolina, nas lojas e isso agrega para a região”, enfatiza o empresário José Eduardo Pioli Bassetti.


 

Pesquisa e Inovação

 

A viticultura de altitude nasceu com o experimento da Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina) desenvolvido na Estação Experimental de São Joaquim. O projeto iniciou em 1991, em parceria com a Estação Experimental de Videira, e teve como objetivo implementar um pequeno vinhedo com nove variedades de uvas de mesa comum e viníferas. As uvas foram colhidas por volta de 1997/1998 e entre as variedades se destacou a Cabernet Sauvignon. 

 

Naquela época, um dos pesquisadores da Epagri à frente do projeto era Emilio Brighenti, especialista em viticultura. Ele conta que na década de 90, São Joaquim era considerada uma região não propícia para a produção de uva porque a maioria das variedades brotam entre os meses de agosto e setembro, época de geada na região, mas como a Cabernet Sauvignon brotou no final de setembro, acabou escapando da geada e produziu cerca de 40 dias mais tarde, em um período de clima mais seco e frio. “Isso deu ao vinho produzido com estas uva novas características como maior intensidade de cor,  diferentes aromas e taninos, um vinho qualitativamente superior aos produzidos na região de Videira, Tangará e região da Serra Gaúcha”, explica. 

 

Os plantios começaram em 2000, quando algumas empresas de outras cidades e produtores de maçã aderiram ao projeto de forma tímida. Segundo Emílio, os investimentos começaram quando o empresário da região Sul de Santa Catarina, Dilor Freitas, comprou uma área de terra em Bom Retiro, ficou sabendo sobre os experimentos com uvas realizados pela Epagri e apostou no projeto. “No ano seguinte o Dilor comprou uma área em São Joaquim e começou a construir a vinícola, o que despertou a curiosidade local, fez os preços das terras subirem e incentivou outros investidores a comprar terrenos em São Joaquim para entrar no mercado de vinhos”. 

 

A pesquisa deu tão certo que hoje São Joaquim é a maior  cidade produtora de vinhos finos de variedade vitis viníferas (europeias) na Serra de Santa Catarina. Para se ter uma ideia, segundo dados coletados pela Estação Experimental, hoje a cidade tem 22 projetos entre pequenos produtores e empresas com vinhedos. “Sendo 18 com produção de vinho própria e, entre elas, nove vinícolas instaladas na cidade, pois alguns produtores apenas colhem a uva e fazem a vinificação em outras vinícolas”, explica.

 

Além da Epagri, instituições como Sebrae, UFSC e Embrapa também atuam ao lado da associação para garantir inovações. Essas parcerias foram essenciais para auxiliar os produtores na realização de simpósios, no registro da marca coletiva Vinhos de Altitude de Santa Catarina e na conquista da certificação de Indicação Geográfica de Procedência, selo IP, fornecida após avaliação para vinhos produzidos em uma área que abrange 29 municípios de Santa Catarina. Desde então, a Vinhos de Altitude já realizou três avaliações e certificou 87 rótulos. “A Vinhos de Altitude Produtores e Associados vislumbra o futuro sem esquecer do passado e, a cada ano, busca inovar para oferecer ao Brasil os melhores vinhos finos de Santa Catarina”, enaltece Diego Censi, atual presidente da associação.


 

Memória Vinhos de Altitude 

 

???? 1864 - primeiro registro produção de vinho em Santa Catarina;
???? 1931 - registro oficial de produção de vinhos na Serra Catarinense;
???? 1998 - microvinificação com uvas Cabernet Sauvignon cultivadas na Estação Experimental de São Joaquim;
???? 2002 - expansão dos vinhedos e vinícolas nas regiões de Altitude de Santa Catarina;
???? 2004 - primeira colheita de uvas finas em escala comercial;
???? 2005 - fundação da primeira associação de produtores;
???? 2013 - associação passa a se chamar Vinhos Finos Produtores Associados;
???? 2014 - associação realiza a 1ª Festa da Vindima dos Vinhos Finos de Altitude;
???? 2021 - aprovação do projeto de Indicação Geográfica de Procedência (IP);
???? 2021 - primeira avaliação de vinhos para receber o selo IP;
???? 2022 - segunda avaliação de vinhos para receber o selo IP;
???? 2023 - terceira avaliação de vinhos para certificação  do selo IP;
???? 2024 - 10ª Vindima de Altitude de SC

 

Fonte: REBOLLAR, P. B. M.; BAUMGARTEN, C. Vinhos de Altitude de Santa Catarina: história e cultura. Florianópolis: Epagri/Sebrae, 2020.

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